No final da época de 2012-2013, Vieira apostou tudo, contra todos, na renovação com Jorge Jesus. Toda a gente se recorda do Gólgota que foi a subida da escadaria do Jamor pelo treinador. Ato de coragem ou golpe de asa? Medo ou sabedoria? Visão ou…?
Bom, recordemos: o casal Vieira-Jesus estava unido há 4 temporada, configurando um enlace tão comum nos nossos dias: após uma lua-de-mel avassaladora, seguiram-se três anos de ilusões, choros, desilusões, esperanças, amuos, ejaculações precoces… Houve de tudo, até um par de Taças da Liga para aquietar um estômago e um figado bem azedos.
Vieira estava desesperado: nesses 4 anos, o casório produzira apenas um filho «de jeito», um campeonato logo na lua-de-mel. O que fazer, sobretudo após a tragédia da final da Taça perdida para o Guimarães de… Rui Vitória? Despachar Jesus? A malta, maioritariamente, exigia-o! Porém, a ser assim, correr o risco de ver um sempre triunfante Pinto da Costa vir à Luz repescar o treinador e vê-lo ser campeão no Dragão, provando deste modo que o mal estava em «todo o lado» menos no técnico? Era o cenário da saída de Vieira pela porta das traseiras. E, a deixar cair o treinador (e, no fundo, era fácil, era um cenário desejado por tantos benfiquistas… Ó p’ra mim aqui!), quem colocar no seu lugar? Quem?
Entre a espada e a parede, Vieira arriscou. Se perdesse, daria um pontapé no cu ao treinador, responsabilizando-o única e exclusivamente, confiando assim poder permanecer na liderança do clube. Se ganhasse, seria o génio que o aguentou contra tudo e contra todos, o «único» que lhe reconheceu competência. Vieira seria O herói. E não é que ganhou? Ganhou em toda a linha, ou quase, tendo em conta as duas finas da Liga Europa perdidas e o fraquíssimo desempenho na Liga dos Campeões. Em dois anos, o Benfica arrebatou TUDO em Portugal, à exceção da Taça de Portugal de 2015.
E assim, felizes e contentes, aos peidinhos de felicidade, chegámos ao presente defeso. Vieira, como dois anos antes, viu-se confrontado com a renovação do contrato de Jorge Jesus. Porém, agora o cenário era exatamente o oposto ao de 2013: só triunfos.
O que fazer? O fácil novamente (neste caso, prorrogar o contrato)? Claro que NÃO: à semelhança do verão de 2013, Vieira fez o oposto do que se esperava e tomou a opção difícil – despachar Jorge Jesus e contratar um novo técnico. Porém, primeiro, mostrando que ainda lhe restava um pouco de inteligência e, em simultâneo, uma soberba que sempre se lhe adivinhou, procurou colocá-lo no estrangeiro, para o impedir de acabar a treinar um dos dois grandes rivais. O desenlace do BRILHANTE plano de Vieira é de todos conhecido, por isso adiante.
«Sobra» uma (de várias) questão: por que carga de água o presidente do Benfica se quis livrar de Jesus? Para poupar 3 milhões de euros? Nunca terá o homem ouvido dizer que, frequentemente, o barato sai caro?
Ou será que Vieira quis provar que o Benfica ganhava independentemente do treinador, portanto graças essencialmente a si – e à sua direção, ou à estrutura, o que quer que isso seja – e não à ação daquele? Uma questão de ego do presidente? Como tantos idiotas soberbos e vaidosos, Vieira convenceu-se de que, se Jesus continuasse a dirigir a equipa principal de futebol do Benfica, o treinador surgiria sempre como o rosto das vitórias e ele, Vieira, sempre em segundo ou terceiro plano. Esta coisa do ego e do papel na História é tramada e é o que faz muito boa gente cometer erros crassos.
Vai daí, quis ocupar o lugar do protagonista em palco. E, de facto, até ao momento está a ser o dramaturgo de uma peça com um péssimo enredo e alguns atores sem talento para pisarem o palco da Luz. Para que a tradição grega se cumpra, falta apenas que Jesus, no próximo final de primavera, comemore mais uma liga, o seu tri, só que vestido de verde… ou o raio de cor que agora se veste por Alvalade.
Luís Filipe Vieira jogou uma cartada altíssima, aquela que permitirá concluir em definitivo se o homem é, realmente, um mestre do dirigismo desportivo ou tão só o autor de uma ópera bufa.